Veja as matérias que levaram à demissão de Rogério Galindo, da Gazeta do Povo de Curitiba
por Cesar LocatellI - Demitido nesta segunda, 05/11, o jornalista Rogério Galindo trabalhava há 18 anos no jornal curitibano Gazeta do Povo. Suas opiniões, críticas aos tristes desenvolvimentos recentes no país, podem explicar a decisão da direção do jornal. Há 8 dias da eleição, divergir já é passível de punição.
Abaixo trechos de dois artigos de Galindo.
1 A imprensa elegeu Bolsonaro ao ser conivente com o ódio
28/10/2018
“O ódio venceu. O ódio ao diferente, a intransigência com a pluralidade. Venceram a tortura, a misoginia, a homofobia, o racismo. Venceu o autoritarismo, o retrocesso de quem quer levar o país de volta ao ponto em que estava ‘40 ou 50 anos atrás’.
(…)
Em qualquer lugar civilizado, o discurso em que o candidato, há uma semana da eleição, promete mandar para a Ponta da Praia, um centro de tortura e extermínio, os seus inimigos políticos, teria levado às mais ásperas manchetes, aos editoriais mais incisivos.
Aqui, falou-se que o candidato moderou o discurso.
Os editoriais dos jornais deram vergonha. Os mesmos jornais que foram tigrões diante de Dilma Rousseff se mostraram tchutchucas deparados com um capitão torturador.
Fizeram-se ataques violentos ao petismo, e deixou-se parecer que do outro lado havia um santo. O santo, senhores, é um bárbaro que defende que se coloquem ratos nas vaginas de presidiárias, que se chamem filhos para ver a tortura dos pais nus.
O homem que prometeu fechar o Congresso no primeiro dia de poder chegou à Presidência.
Só a união das forças democráticas nos salvará. Mas, para isso, não contem com os jornais. Eles já mostraram de que lado estão.”
2 Moro deslegitima Lava Jato e dá credibilidade à narrativa de perseguição ao PT
01/11/2018
“ (…)
É fato que, sem Moro, sem a Lava Jato, não haveria governo Bolsonaro. Antes da saída de cena, por determinação jurídica, Luiz Inácio tinha cerca de 40% das intenções de voto, o dobro do distante segundo colocado, hoje presidente eleito.
Lula só não pôde ser candidato porque Moro o condenou num processo em que pelo menos metade dos juristas considera a sentença insustentável. Mas há mais: não fosse Moro, também não haveria a prisão depois da segunda instância, sem que o caso tenha tramitado em julgado.
Sem a comoção causada pela Lava Jato, o TRF-4, numa turma liderada por um amigo de Moro, também não teria passado o caso na frente de tantos outros, julgando tudo estranhamente a tempo de Lula não poder concorrer.
E, se concorresse, haveria ainda o fato de o juiz ter liberado gravação ilegal do ex-presidente falando com Dilma Rousseff que contaminou completamente o processo. Assim como contaminou também a desnecessária condução coercitiva, logo depois determinada ilegal, de Lula para um depoimento a que ele sequer tinha faltado.
(…)
O final da história podia não ser evidente lá atrás. Mas, vendo em retrospecto, faz todo o sentido.”