Vi um interessante estudo sobre dietas de um pesquisador da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE), Antonio Herbert Lancha Junior, intitulado “Melhorando hábitos nutricionais sem a prescrição de dieta: Detalhes de um processo de orientação nutricional”.
A adesão às dietas tradicionais é um fenômeno comum e, muitas vezes, elas cumprem o objetivo. Porém, para uma parte da população, esses métodos não funcionam. O pesquisador classificou as pessoas participantes em dois grandes grupos: o de pessoas responsivas e o de não-responsivas. Os primeiros compunham-se daquelas pessoas que cumpriam o que lhes era proposto. Já os não-responsivos, por sua vez, não respondiam muito bem às instruções da dieta para a redução de peso e apresentavam uma relação com os alimentos muito mais afetiva.
Intrigado com a constatação, o cientista investigou o fenômeno responsável por essa diferença e procurou entender qual era o fator que motivava aquelas pessoas a emagrecer. Para isso, propôs um método que promovesse mudanças de estilo de vida, comportamentais e de hábitos nutricionais. Desejava um modelo que fosse aplicável em qualquer situação, para qualquer pessoa e possível de se sustentar para toda a vida.
Precisaria descobrir o “gatilho” que movesse a pessoa a ter uma compensação muito maior do que qualquer prazer imediato, como o comer. Algo que fosse mais forte do que o prazer instantâneo de comer um chocolate, por exemplo.
Quando a pessoa quer emagrecer, ela tem que descobrir, dentro dela, o que de fato vai promover essa recompensa. O papel do profissional de saúde é o de atuar oferecendo suporte e assistindo o cliente, que está no centro de seu próprio processo de mudança. E a decisão é conjunta, não unilateral. O paciente deixa de ser passivo e passa a ser ativo no processo.
Normalmente, as dietas colocam a responsabilidade em cima de algum alimento ou de algum nutriente e baseiam-se nos três pilares: fato, força e medo. Isto é, as dietas procuram atingir mudanças a partir de receios e apreensões. E o que descobriram é que ninguém muda a partir do medo.
A transformação é atingida com base na teoria dos 3 R: desenvolver uma relação profissional-cliente, consolidar uma reestruturação do padrão comportamental e assegurar a repetição desse novo modelo.
Esse esquema é fundamental para a obtenção dos resultados. E o cientista relata que a estratégia resultou em benefícios não imaginados antes. O método obteve melhorias nos hábitos nutricionais e nos resultados clínicos do indivíduo. Este apresentou menor ingestão de gorduras, ao passo em que teve melhora na sua saúde e na sua qualidade de vida.
Para isso, deve-se levar em consideração o que, dentro da realidade de cada pessoa, é possível de ser realizado. E valorizar cada progresso, ao invés de colocar inúmeros desafios. Então, por menor que seja o avanço, motivar os próximos passos, de forma que a intervenção seja a solução e não mais um problema.
A simplificação da dieta em pequenos objetos, ou em pequenos passos (baby steps) que com o tempo, vai-se longe, melhora a saúde e, de quebra, fica mais esbelto.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.