Por Mario Eugenio Saturno
O dia 29 de maio ficará marcado como o dia que se deu um importante passo para Salvar o Aquífero Guarani: o projeto Gigante Guarani - Restauração Ecológica do Bioma Mata Atlântica em áreas de recarga do Aquífero Guarani. Um projeto financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com apoio da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA/Unesp), da Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais (Fepaf) e outros, para melhorar a cobertura vegetal com espécies nativas e de gestão da cadeia produtiva do setor de restauração ecológica na região que abriga áreas de recarga do Sistema Aquífero Guarani, nos municípios de Pardinho, Bofete e Itatinga.
O Aquífero Guarani é um reservatório natural de rochas que absorvem e retêm a água subterrânea. Ele se estende pelo território da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Muita gente crê que o Guarani vá durar uns quinhentos anos e que é tão “bão” que até os Estados Unidos querem -talvez fazendo um aqueduto de São Paulo a Boston (sim, isto é uma ironia)-. Infelizmente, lamento informar, não é verdade!
O relatório do Projeto Sistema Aquífero Guarani, de 2009, já apontava que Ribeirão Preto e região retiravam muito mais água do aquífero do que recarregava, consumia 80 bilhões de litros por ano enquanto a recarga anual era de 46 bilhões. A taxa de consumo diário da população era de aproximadamente 400 litros por habitante, enquanto o consumo ideal por habitante sustentável é de 230 litros.
Em 2007, eu questionara o Secretário Municipal de Catanduva-SP que informou que cada um dos 117.000 habitantes consumia 227 litros de água por dia e que dois poços no aquífero Guarani já tinham rebaixado seus níveis em mais de 100 metros, ou seja, empoucas décadas o “imenso lençol” estará seco.
Naquela época, acreditava-se que as fazendas de água, técnica praticada em países como a Alemanha e Estados Unidos, deveriam ser utilizadas no Brasil para ampliar a captação e recarga da água do aquífero. Consiste em reservar os locais próximos a poços e nascentes como zona de captura de água das chuvas, regulamentada para evitar qualquer tipo de contaminação do sistema de captação da água.
O projeto Gigante Guarani quer promover a restauração da Mata Atlântica em 200 hectares de áreas de proteção permanente (APP), associado com a produção agroecológica, buscando alternativas econômicas para os produtores rurais realizarem a adequação ambiental e o treinamento para agricultores na cadeia produtiva da restauração florestal, captação de recursos e elaboração de projetos. Em outras palavras, visa mesclar a recomposição da vegetação nativa com a geração de renda.
Como parte do projeto, serão realizados dois ciclos de cursos de capacitação em módulos, voltados para grupos de agricultores familiares e produtores rurais. O primeiro deles capacitará os participantes para criação de viveiro de mudas, produção de sementes (coleta, beneficiamento e armazenamento), modelos de restauração, políticas públicas e vias de acesso ao financiamento, compensação ambiental e demais fontes de recursos. É modelo a ser seguido!
Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
Mario Eugenio Saturno