Ensina o Padre José Bortolini que durante a segunda viagem missionária (At 15,39-18,22), nos anos 50 d.C., Paulo passou pela Galácia (At 16,6), mas os Atos dos Apóstolos nada falam a respeito da fundação de comunidades nessa região, pois para Lucas o fato importante dessa viagem foi a entrada do Evangelho na Europa. A Galácia foi uma conquista menor.
Esse também é o motivo porque ele não se preocupa em descrever o que aconteceu com Paulo e Silas antes que chegassem a Filipos (At 16,11-40), primeira cidade europeia a receber o anúncio da Boa Nova.
É a carta aos Gálatas que esclarece como nasceram essas comunidades. Diz Paulo: “Vocês sabem que foi por causa de uma doença física que eu os evangelizei. E vocês não me desprezaram nem me rejeitaram apesar do meu físico ser para vocês uma provação. Pelo contrário, acolheram-me como a um anjo de Deus ou até como Jesus Cristo. Eu dou testemunho de que, se fosse possível, vocês teriam arrancado os próprios olhos para me dar” (Gl 4,13-14.15b).
A Galácia poderia compreender a Província Romana da Galácia, que compunha das cidades Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe, mas, hoje, acredita-se que seja a região em torno das cidades de Ancira e Pessinunte, onde, atualmente, fica a cidade de Ancara, capital da Turquia.
As comunidades gálatas eram compostas, na sua totalidade, de pessoas que não pertenciam ao povo judeu. A chegada de Paulo e o anúncio do Evangelho aproximam esses povos (Ef 2,14-15).
Estudos recentes afirmam que a Galácia era famosa por seu mercado de escravos. E que a maioria das terras pertencia ao Império Romano. Paulo manifesta sua visão quando afirma que “Cristo entregou-se pelos nossos pecados para nos arrancar deste mundo mau” (1,4). Mundo mau, ou mundo cão, como se diz hoje em dia. E, para Paulo, Jesus Cristo morreu por nós, libertando-nos desse mundo perverso: no passado, quando vocês não conheciam a Deus, eram escravos de deuses, que na realidade não são deuses” (Gl 4,8). Não há mais diferença entre judeus e gregos, entre escravos e homem livre, entre homens e mulheres” (Gl 3,28).
Na ausência de Paulo, infiltraram-se nessas comunidades alguns cristãos de origem judaica (os judaizantes). Eles afirmavam que, para ser cristão, devia-se primeiro circuncidar-se, ou seja, judaizar-se. Por trás da prática da circuncisão reside a questão fundamental que leva Paulo a escrever em um estilo nervoso e cheio de paixão a carta os Gálatas.
Para os judaizantes, a circuncisão era a porta de entrada que Paulo chama de “jugo da Lei” um modo injusto para se obter a salvação. Uma vez observadas todas as prescrições, a pessoa se tornava perfeita, irrepreensível, justa, obrigando Deus a salvá-la, premiando-lhe a justiça. Em outras palavras, a pessoa ia contabilizando méritos diante de Deus, e só depois é que Deus poderia intervir, aprovando e sancionando o que a pessoa fez.
Porém, em Jesus Cristo, o que vale é a fé agindo pelo amor, ser ou não circuncidado não tem importância alguma” (Gl 5,1-6). Paulo reage e mostra as más intenções: “eles querem separar vocês de mim, para que se interessem por eles” (4,17b).
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano