Por Mario Eugênio Saturno
A primeira vez que conheci o Sermão da Sexagésima foi através de um ator que era financiado por alguma agência de cultura. Ele interpretava o Padre Vieira proclamando seu sermão famoso nas escolas de segundo grau. Fiquei impressionado na época, 1980, e continuo até hoje. Depois que abandonei o ateísmo, essas palavras da Sexagésima voltaram a ecoar na minha mente:
Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, e necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?
Não deixo de fazer uma reflexão sobre Educação tendo por base a Sexagésima. Acho que os pensamentos do Padre Vieira servem aqui também: de quem é a culpa, do aluno, da escola ou do professor?
Hoje, as redes sociais nos trazem os professores reclamando dos pais que não participam da educação, respeito e orientação aos filhos para fazer tarefa e estudar, reclamam dos salários que os governos pagam, da infraestrutura da escola, etc. O cidadão reclama que os alunos não sabem nada, não aprendem.
Sem querer polemizar, se a Educação do Brasil fosse realmente uma das piores do mundo, não teríamos o oitavo PIB do mundo e não existiriam Embraer, Petrobras, Embrapa, Avibras, etc.
Outro ponto, antes de 1970, a Educação no Brasil era tida como de boa qualidade, mas para poucos. A ditadura acabou com o Científico, adotou uma formação técnica e universalizou. Dizíamos que era para o povo não pensar!
Hoje, temos muitas escolas, poucas de qualidade. A maioria das cem melhores está em São Paulo, será que pode copiar para o resto do país? E por que mesmo São Paulo não melhora mais? Quem é o verdadeiro inimigo da Educação, o governo, o método, a escola, o professor, o aluno, os pais? Talvez os políticos...
O governo federal está paralisado esperando a aprovação da Previdência. O Ministério da Educação deveria prover uma reforma que estabeleça método, treinamento de professor, atividades que envolvam os pais, tratamento e socialização de alunos violentos, etc. E os deputados e senadores também deveriam fazer sua parte. Ouçam também Monteiro Lobato.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.