Por Camyle Hart, via redes sociais...
Jung dizia que há um momento da vida, lá pelo meio do caminho, em que sentimos grande angústia, algo nos tira o sossego. Quando já construímos nossas relações interpessoais, as estruturas ao redor e voltamos para o nosso mundo interior em busca de um resgate do que foi abandonado e ficou às margens em prol das realizações do Ego.
É o início do processo de individuação. Quando temos a necessidade de saber quem somos, qual a nossa finalidade, a nossa essência, o que verdadeiramente nos representa e nos faz estarmos em paz, em harmonia e sintonia com o todo. É o início da busca do ‘si mesmo’. É a queda das máscaras.
Deste momento em diante nossas almas passam a gritar por nós mesmos. Olhamos no espelho e queremos ver a nossa verdadeira face. É aí que nos tornamos indivíduos e nos separamos, enquanto ser, dos demais à nossa volta. Não é um isolamento, mas a busca do entendimento do que nos faz sermos unos. O que vemos deve ser o que nos representa. Falsas imagens passam a pesar em nossas costas e se manifestam em forma de doenças físicas e mentais.
Khalil Gibran retrata perfeitamente este momento através de um lindo conto:
Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.