Há dois anos e meio, por indicação de um amigo, resolvi baixar o aplicativo de motorista e experimentar a brincadeira. O curioso é que a ideia de escrever o livro ocorreu logo no meu primeiro dia de atividade quando eu peguei um passageiro que durante a viagem inteira foi empunhando uma pistola. Não se tratava de uma tentativa de assalto. Numa breve conversa descobri que o sujeito estava jurado de morte e, apesar da situação um tanto quanto suspeita, o sujeito foi sempre cordial. Mas, por mais estranho que possa parecer, em momento algum me senti ameaçado. Ao final da viagem meu passageiro até se desculpou ao saber ser meu primeiro dia como motorista. Fiz entender que estava tudo bem e em tom de brincadeira disse que não é todo dia que alguém trabalha escoltado.
Entendo que numa situação como essa, muitos teriam desistido da atividade, mesmo se tratado de um caso isolado ou de uma excessiva sorte de principiante, digamos assim. Mas eu pensei, se o primeiro dia foi assim, o que mais estará por vir? E não sei se fiquei mais empolgado com a possibilidade de escrever um livro ou se o meu entusiasmo foi pelo vislumbre do que ainda viria pela frente, provavelmente ambas as coisas.
Não é difícil ser motorista. Se você gosta de dirigir e gosta de pessoas já é mais de meio caminho para o sucesso. Claro que é preciso ter um certo jogo de cintura, pois lidar com pessoas pode ser muito bom ou muito ruim. Obviamente, existem passageiros bastante inconvenientes, assim como também existem motoristas desqualificados, como já me foi relatado por muitos passageiros. Meu consolo é saber que tais indivíduos não duram muito tempo na plataforma, pois acabam excluídos.
Seguramente, o que mais me fascina nessa atividade são as relações humanas. Pense bem, são passageiros de todas as tribos, independente de classe social, onde o carro se transforma num verdadeiro laboratório sobre quatro rodas e o motorista faz, por vezes, o papel de padre, psicólogo, confidente… Portanto, se você estiver aberto, receptivo, você aprende muita coisa, inclusive a ser mais tolerante. Depende muito de como você encara a atividade, diria que do ponto de vista social pode ser um processo muito edificante. O relacionamento entre motorista e passageiro é uma verdadeira troca, mas é claro que nem todo mundo quer conversar e sendo esse o caso eu dirijo em silêncio.
Economicamente falando, admito que já foi melhor, como tudo no Brasil no começo é sempre melhor. Ainda assim, continuo pagando todas as minhas contas em dia. Hoje entendo que o ideal mesmo é encarar a atividade como renda complementar e não como renda principal. A vantagem da plataforma é poder trabalhar no dia e no horário que me for mais conveniente, também não preciso cumprir metas e nem horários estipulados. Exerço a atividade há dois anos e meio e contabilizo quase 13 mil viagens. Hoje eu dirijo bem menos do que antes, voltei a me dedicar às outras atividades, mas não pretendo parar, gosto muito da experiência. Quando eu ligo o aplicativo é sempre uma nova aventura, isso me instiga e uma boa conversa sempre me revigora.
Diria ser uma maneira remunerada de convívio social. Alias, sei do caso de um aposentado que curou a depressão exercendo a atividade, imagino que existam muitos outros casos similares. Poderia, ainda, citar o alto executivo de sucesso que nas horas vagas transporta passageiros por puro prazer e ainda dá dicas de empreendedorismo. Ou o advogado, dono de um escritório de advocacia que percebeu na atividade a oportunidade de ter contato com pessoas fora do âmbito profissional de direito. Talvez seja uma forma de resgatar algo que se perdeu no meio do caminho. Passageiros vem e vão, mas são relações que, embora momentâneas, transcorrem de forma descontraída, de forma verdadeira e sincera, sem as segundas intenções que, infelizmente, se tornaram tão comuns no atual mundo das aparências e interesses camuflados. Afinal, nada melhor do que ser você mesmo.
Por essas e outras, considero a atividade um verdadeiro fenômeno que, de forma despretensiosa, aproxima pessoas num contato real, ao contrário das redes sociais, que promovem contatos virtuais no universo de selfies enganosas e comentários de veracidade duvidosa. Uma conversa agradável, um aperto de mão, uma troca de olhares e um sorriso sincero valem muito mais do que uma curtida nas ondas da internet. Acho que posso afirmar que como motorista já fui pai, irmão filho e amigo.
De uma forma geral eu me divirto muito, dou muita risada com meus passageiros e asseguro que os momentos de prazer e alegria são predominantes. Também me emociono, eu já chorei com passageiras que precisavam desabafar. Já me apaixonei, levei calote, passei raiva, senti medo e, acredite se quiser, até convite para ser laranja eu já recebi.
Agora pretendo finalmente publicar o livro. Já está tudo pronto: capa, revisão, diagramação, registro de direitos autorais e o ISBN. São 14 capítulos distribuídos em 116 páginas. Para isso lancei campanha no Catarse que é a mais respeitada plataforma de financiamento coletivo do Brasil. Pode-se dizer que seria uma pré-venda do livro ou uma compra antecipada. A partir de R$ 20,00 o apoiador recebe o livro em casa, mas também podem contribuir com valores maiores e nesse caso, além do livro, também ganha outras recompensas. Fiquei comovido ao receber R$ 1.000,00 de um apoiador anônimo que não quer receber nenhuma recompensa. Enfim, vai do interesse e da generosidade de quem quer apoiar o projeto.
A plataforma de financiamento coletivo faz a ponte entre o autor da proposta e os apoiadores e vai armazenado todo valor arrecadado. Ao final, uma vez alcançada à meta, a plataforma faz o repasse para que o proponente finalmente execute o projeto como um todo e envie os livros e recompensas aos apoiadores. Mas é preciso atingir a meta, caso contrário eu não recebo nada, o livro não acontece e a plataforma devolve todo dinheiro aos apoiadores.
A meta a ser atingida é de R$ 15.000,00 para custear a impressão (R$ 10.620,00), as despesas de envio dos livros e das recompensas (R$ 2.430,00) e a parte que cabe à plataforma (R$ 1.950,00). Uma vez concluído o projeto, vou prestar contas, via e-mail, a todos os apoiadores da campanha.
IMPORTANTE: O prazo para apoiar a campanha se encerra no dia 26 de novembro. Se você quiser apoiar a campanha e adquirir o livro acesse o site www.catarse.me e insira na barra de busca: Memórias de um motorista de aplicativo. Apoie e compartilhe.
https://www.catarse.me/memorias_de_um_motorista_de_aplicativo_8093#about!
Wilton Mitsuo Miwa é fotógrafo e produtor cultural na cidade de Londrina. Autor do livro ¨Vidas Passageiras¨ e coautor de outras duas publicações. Já desenvolveu diversos projetos fotográficos, possuindo diversas premiações no segmento. É motorista de aplicativo.
Celular e Whats (43) 99645-2137 (minha caixa de recados não funciona)