João Baptista Herkenhoff, Juiz de Direito aposentado (ES) e escritor
Quero propor, neste artigo, que reflitamos sobre a compaixão e a solidariedade. Como estes sentimentos são importantes para a genuína fé cristã.
Compaixão lida mais com o interior, a vida espiritual, o coração. A solidariedade trabalha mais com as ações concretas, que desaguam num comportamento de ajuda e companheirismo prático.
Não tem qualquer mérito exaltar o poder porque o poder perece. Apropriado é homenagear quem esteve por cima e hoje está por baixo.
Quando esteve no topo teve mil bajuladores.
Na prisão só mesmo uma figura grandiosa como Frei Leonardo Boff para ter a iniciativa de visitá-lo, embora impedido de concretizar seu propósito pela arbitrariedade judicial.
Que saudades de meu tempo de juiz, quando o magistrado era o fiel na balança. Não pendia nem para um lado, nem para o outro.
Neste texto, presto tributo a Getúlio Vargas e a Lula que são, a meu ver, os dois maiores estadistas do Brasil, nos séculos XX e XXI.
Getúlio suicidou, Lula está preso.
Motivos semelhantes levaram Vargas ao suicídio e Luis Inácio ao cárcere.
Não obstante a distância, no tempo, entre essas duas personalidades, há muito em comum entre ambas.
Getúlio e Lula defenderam as riquezas nacionais contra a cobiça estrangeira. Getúlio criou as bases do Direito do Trabalho, Lula fez avanços na legislação operária.
Um dos maiores legados de Vargas foi a implementação de um projeto desenvolvimentista baseado na forte presença do Estado em áreas consideradas cruciais para o desenvolvimento do país.
Atuando como regulador ou empreendedor de certas atividades econômicas, a intervenção estatal tinha por objetivo estimular a industrialização e modernização do país.
Lula partilhou de ideais semelhantes, embora num outro tempo.
Getúlio e Lula tiveram o apoio das camadas mais pobres da sociedade. Contaram com a simpatia de setores da classe média. Atraíram contra si o ódio dos que não queriam e não querem nada perder.
Essa camada superior não se considera detentora de qualquer privilégio. Tudo que conquistou foi resultado de luta e esforço, diferentemente da plebe rude.
Nenhum brasileiro recebeu homenagens semelhantes às tributadas a Getúlio, após sua trágica morte. O Brasil chorou. Os idosos lembram-se disso.
Frequentadoras da Missa, católicos exemplares, essas pessoas não consideram que profanam o Evangelho quando se socorrem das palavras do Cristo para defender uma sociedade de classe
Pobres, sempre tereis convosco. (Marcos, 12, 7).
O Cristianismo tem seu fundamento no amor e na solidariedade.
A ideia de competição, como diretriz para a vida econômica, mesmo quando essa competição esmaga os fracos, não tem filiação evangélica.
João Baptista Herkenhoff, Juiz de Direito aposentado (ES) e escritor - Email - jbpherkenhoff@gmail.com