Vemos nos Atos dos Apóstolos (At 17,16-34) que Paulo, durante a segunda viagem missionária, nos anos 50 dC, chega a Atenas, encontra filósofos na praça e decide pregar racionalmente, fala em nome do Deus desconhecido, mas com pouco sucesso. Então, parte para Corinto.
Paulo permaneceu um ano e meio em Corinto, iniciando uma comunidade. Nessa cidade concretizou-se a ruptura com o judaísmo, pois a pregação de Paulo encontrou forte oposição por parte dos judeus (At 18,12-13). Para eles, Jesus crucificado (Dt 21,22-24 e Gl 3,11-14) não poderia ser o Messias.
Corinto era uma das cidades mais importantes do Império Romano naquele tempo, estima-se que havia 250 mil pessoas livres e cerca de 450 mil escravos. A cidade estava em um corredor mercante e, com o passar dos anos, tornou a sede da província senatorial da Acaia.
A cidade era muito movimentada porque possuía dois portos: Laqueu (a oeste) e Cencréia (a leste). Faziam a ligação entre o centro do Império (Roma) e a Ásia. Em Corinto morava a maioria dos latifundiários da Grécia, evidenciando o abismo entre ricos e pobres. E Paulo revela quem eram os convertidos: entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade (1 Cor 1,26-28).
Em Corinto havia todo tipo de religião, especialmente o culto a Poseidon (Netuno), o deus do mar e o culto à deusa “Roma” e ao imperador, cultos começaram durante o governo de Augusto César, no ano 30 e que teve forte aceitação nesta cidade.
Na fortaleza da cidade havia o templo de Afrodite (Vênus), a deusa do amor e da fecundidade. Lá, mil mulheres iniciavam os devotos na arte do amor. Elas eram chamadas de “santas”. Paulo nas epístolas aos coríntios, evita chamar as mulheres de santas por causa disso.
Paulo escreveu a primeira carta aos Coríntios em Éfeso depois de passados cinco anos em que ele esteve lá. Ele recebera a visita de familiares de Cloé que lhe narraram os fatos (1 Cor 1,11). Depois da partida de Paulo, a comunidade desuniu-se (1 Cor 1,10-17). Ignoravam o caso grave de um cristão que vivia com a madrasta (1 Cor 5, 1-8). E resolviam suas questões diante dos tribunais pagãos (1 Cor 6,1-3).
E, ainda, havia os que pensavam que podiam fazer tudo que queriam (1 Cor 6,12-20). Tinham dúvidas sobre o matrimônio, celibato, divórcio, virgindade, escravidão e viuvez (1 Cor 7,1-2). E também sobre as carnes sacrificadas aos ídolos, pois ali quase toda carne à venda tinha passado pelos templos como oferta aos ídolos (1 Cor 8,1-13).
Houve uma reivindicação das mulheres, pois os cristãos se reuniam nas casas para celebrar a fé e as mulheres passaram a assumir funções importantes na comunidade (1 Cor 11,2-16). Havia também incoerência na celebração da eucaristia, faltava compromisso solidário com os fracos (1 Cor 11,17-22). Paulo ainda trata da questão dos carismas (1 Cor 12 a 14) e da ressurreição dos mortos (1 Cor 15,12-19).
Como se vê, os coríntios reproduziam na comunidade o tipo de sociedade injusta e discriminadora de onde vieram. Esta epístola não deixa de ser uma forte reflexão para todos os cristãos nos dias de hoje.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano