Por Mário Eugênio Saturno
Ismael Nobre e Carlos Nobre, dois importantes cientistas brasileiros, escreveram um artigo para a Revista Futuribles em Português nº 2, edição de Setembro de 2019, em que apresentam uma iniciativa, a Terceira Via Amazônica, e o desenvolvimento do Projeto Amazônia 4.0.
É uma proposta que recusa a vocação natural do Brasil ser apenas uma potência agromineral, fornecedora de “commodities” para as nações industrializadas e pós-industrializadas. Em outras palavras, o Brasil vende produtos de baixo valor agregado e alto impacto ambiental, e compra produtos manufaturados e tecnológicos de alto valor, seguindo a mesma lógica que sempre caracterizou a nossa história.
A Amazônia está no centro de nossos desafios. Recuperar a imagem do Brasil como gestor eficiente e inteligente da Amazônia, da floresta preservada e produtiva certamente beneficiará nossa economia, especialmente os habitantes dos estados amazônicos.
É preciso abandonar os modelos adotados nas últimas décadas, tanto a chamada primeira via que visa isolar grandes extensões de selva para fins de conservação, quanto a segunda via que propõe um modelo de desenvolvimento para a agricultura, pecuária e mineração. E estes provocam o desmatamento. E outro é a demanda de produção de energia na região amazônica, ou seja, hidrelétricas.
O Brasil precisa de uma terceira via baseada no desenvolvimento econômico e social sustentável, alicerçado na biodiversidade e nas tradições e modos locais, e explorando as potencialidades da Quarta Revolução Industrial, a Indústria 4.0.
A floresta amazônica é resultado de milhões de anos de evolução, em que a natureza desenvolveu grande variedade biológica em ecossistemas aquáticos e terrestres, uma extraordinária riqueza de produtos naturais. Esses ativos biológicos interessam a Indústria 4.0 para a elaboração de produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentícios, ou até mesmo na pesquisa de novos materiais, soluções energéticas e de mobilidade, com significativo potencial de lucro. Mas é claro, sempre tem a alternativa de tacar fogo na floresta... Alternativa estúpida, claro!
Até o momento toda essa riqueza latente está longe de ser devidamente aproveitada e canalizada de volta para a região, tanto para conservar esse bioma único como para melhorar as condições de vida dos indígenas, dos caboclos, dos ribeirinhos, dos antigos colonos desassistidos e mesmo das cidades enraizadas na Amazônia.
A Terceira Via Amazônica representa uma oportunidade para desenvolver uma economia verde de verdade que aproveite todo o valor de uma floresta produtiva permanente para, com a ajuda de novas tecnologias, digitais e biológicas disponíveis ou em evolução, estabelecer um novo modelo de desenvolvimento econômico socialmente inclusivo.
É possível criar as condições para o florescimento de uma bioeconomia vibrante e inclusiva, que respeite a floresta e seus rios, a fauna, a flora e os povos tradicionais amazônicos, mas os desafios não são poucos nem pequenos, entre eles o fato de a Amazônia ainda estar em grande medida desconectada dos centros de inovação tecnológica e de bioeconomia mais avançados do planeta.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
Mario Eugenio Saturno