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Ansiedade, percepção, dias atuais e tratamento
  Data/Hora: 29.jun.2020 - 14h 42 - Colunista: Cultura  
 
 
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Por: Fernanda Machado/psicóloga e neuropsicóloga cognitivo comportamental

 

“O que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que ele faz destes”.

Epicteto, século I d.C.

 

“Nossa serenidade não depende das situações, mas de nossa reação diante delas. Portanto, ao intervirmos no aqui e no agora, torna-se possível provocar mudanças em nosso futuro”.

Buda, 563 a.C.

 

Foto: Divulgação/Internet - Anteriormente, nos excertos, temos a representação de ideias que determinam a percepção como criadora de emoções e comportamentos, e não, propriamente, os eventos em si. Para tornar mais claro temos, a seguir, um exemplo atual:

 

Certo dia, Maria e Júlia se deparam com a notícia que deverão permanecer de quarentena por, pelo menos, 30 dias. Ambas possuem seus negócios como meio de sobrevivência, entretanto, não se conhecem. A primeira tem uma cafeteria no centro de São Paulo e a segunda, uma cafeteria no centro de Copacabana.

 

A quarentena é obrigatória e, por isso, ambas não podem abrir os seus estabelecimentos. Com a notícia, Maria sente-se angustiada e passam-se milhares de pensamentos em sua cabeça; alguns deles são: “E agora? Eu não tenho reserva financeira para ficar um mês sem trabalhar...”; “Sem vendas, não terei dinheiro para pagar o aluguel...”; “Como vou pagar os funcionários?...”; “O dinheiro sempre foi tão certinho, mas sem vendas fica insustentável”.

 

Maria passou a ter esses pensamentos de maneira repetitiva, passou a dormir menos horas, a ficar na cama por longos períodos do dia, já que estava se sentindo de mãos atadas e sem as atividades rotineiras que davam sentido à sua vida; além disso, começou a sentir a respiração mais curta de forma frequente. Toda vez que o telefone tocava ela imaginava ser alguma cobrança e o seu coração disparava; com isso, a sensação e a perda de controle passaram a ser uma constante.

 

Júlia, por sua vez, também ficou apreensiva com as notícias, preocupou-se com os funcionários, o aluguel e os filhos que dependiam somente dos recursos dela, e entendeu que seria uma situação difícil, pois não conseguira criar um caixa reserva; no entanto, entendeu que precisava tomar decisões rápidas, pois não sabia por quanto tempo a situação se estenderia.

 

Júlia decide, então, ligar para o proprietário do imóvel (cafeteria) e negociar o valor do aluguel ou o prazo; propôs uma reunião on-line com os funcionários e expôs a situação da empresa, solicitou ideias de como eles poderiam atuar e estratégias para conter os prejuízos. Apesar de os filhos não terem idade para a tomada de decisões importantes, entendeu que precisava conversar com eles e dizer que era necessária uma redução de custos, e, por isso, algumas coisas que eles faziam no mês não poderiam mais ser feitas, até que a cafeteria pudesse ser reaberta e a situação restabelecida. Por fim, Júlia entendeu que não poderia sair de casa e resolveu ocupar melhor o tempo com os filhos, já que, no dia a dia, esse tempo era comprometido. Combinou com os funcionários que trabalhariam em novas receitas para inserir na cafeteria e ter um diferencial quando a quarentena acabasse; dessa forma, apesar das preocupações que ainda eram presentes, ela conseguiu manter a serenidade e estabeleceu novas rotinas que pudessem amenizar todo o desgaste mental e funcional daquele tempo, não só para ela, como para os que faziam parte do seu cotidiano de maneira mais próxima.

 

Como o leitor pôde observar, o evento é, em si, o mesmo para as duas mulheres, entretanto, a maneira como ambas percebem a situação é diferente, gerando, em uma delas, um acréscimo de ansiedade, que, por sua vez, bloqueou a sua capacidade de raciocínio e as ações mais efetivas; e, na outra, a manutenção da capacidade de pensamento lógico, que a levou a tomar decisões importantes e a se manter funcional.

 

Essa história nos mostra como a percepção de cada indivíduo pode ser diferente, a partir de suas crenças, seus valores e suas experiências; desta forma, a interpretação que damos a um fato influenciará na forma como sentimos e como agimos, o que, por sua vez, gerará consequências positivas ou negativas.

 

Um dos papéis da Terapia Cognitivo Comportamental, que é uma abordagem da psicologia e trata ansiedade e outros transtornos psicológicos,  é trazer ao indivíduo novas maneiras de perceber os eventos cotidianos e auxiliá-lo na descoberta dos recursos que estão disponíveis para a tomada de decisões, que tragam resultados, geralmente, mais funcionais.

 

Nos estados ansiosos, por exemplo, as percepções podem sofrer distorções, o que pode levar a riscos superestimados, tanto internos quanto externos, e a uma versão subestimada dos próprios recursos e de seu ambiente para lidar com estes riscos, como aconteceu com Maria. Desta maneira, a Terapia Cognitivo Comportamental dispõe de técnicas que atuarão, diretamente, nos pensamentos e nas crenças que, ao longo da vida, foram se desenvolvendo. O cérebro da pessoa submetida às técnicas desta terapia sofrem alterações que possibilitam maior ativação pré-frontal, onde se localiza a capacidade de raciocínio e a tomada de decisão, a partir da melhor avaliação de prioridades e da menor ativação do complexo amigdaloide (um dos complexos envolvidos no transtorno de ansiedade), que, em excesso de ativação, provoca a respiração ofegante e o aumento no batimento cardíaco, por exemplo. Portanto, o tratamento é de fundamental importância e o quanto antes melhor, pois a ansiedade pode se tornar crônica e os sintomas cada dia mais frequentes e intensos.

 

 

Fernanda Machado

Psicóloga e neuropsicóloga cognitivo comportamental

www.fernandamachado.psc.br

contato@fernandamachado.psc.br

 
 

 

 

 
 
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