Por Mario Eugenio Saturno,
Na crise da Covid-19, os governos buscam encontrar as políticas nacionais certas e também uma resposta global eficaz. Essa crise afetará drasticamente a Produto Interno Bruto - PIB, mas nem se compara à perda do PIB mundial que a crise das Mudanças Climáticas causará.
A Bloomberg publicou um interessante estudo em que estima em US$ 36 trilhões a perda do PIB por negligenciar o clima. Para esse cálculo, foram considerados o aumento da temperatura global e uma economia mundial fraturada. Se houver uma ação rápida contra o aumento das temperaturas e um compromisso renovado com a globalização, a economia mundial estaria no caminho para ter uma produção mundial de US$ 185 trilhões em 2050. Em uma situação oposta, o PIB mundial pode ficar limitado em US$ 149 trilhões.
Embora pareça óbvio escolher combater as mudanças climáticas imediatamente, cada país observa sua participação no cenário mundial e vê seus interesses próprios. Isso porque as escolhas na luta contra as mudanças climáticas e o grau de integração fronteiriça não afetam apenas o tamanho do bolo econômico global, mas também a forma como é dividido.
Estima-se que um início precoce do combate ao aquecimento do planeta seria bom para todos, mas beneficiaria os mercados emergentes do hemisfério sul muito mais do que as economias avançadas do norte. E o mesmo vale para a globalização. Mais do que isso, deixaria todos os países melhores, mas os maiores ganhos seriam atribuídos às economias de renda média na fronteira tecnológica, e não às mais ricas.
Para os Estados Unidos da América, o compromisso com um futuro de baixo carbono e livre comércio apressaria o momento em que seriam ultrapassados pela China como a maior economia do mundo. Na previsão da Bloomberg, essa mudança ocorrerá em 2035. Em 2050, a China estenderia significativamente sua liderança.
Em um futuro alternativo, onde os EUA atrasam a ação contra as mudanças climáticas e colocam barreiras ao comércio e às transferências de tecnologia, como fez nos últimos quatro anos, a China alcança os EUA na década de 2040 e não avança decisivamente.
Porém, um planeta mais quente implica em incêndios florestais na Califórnia, secas na África e inundações no sul da Ásia, ou seja, um custo que poucos consideram. O aumento das temperaturas diminui a produtividade e aumenta os custos. Eles também desviam capital de projetos de infraestrutura e industriais para usos menos produtivos, como defesas contra enchentes.
Os custos já atingem cerca de 1% do PIB global. As previsões sugerem que eles aumentarão mais 2% até 2050 se as emissões não forem controladas. Em 2100, o impacto total na produção global será de cerca de 10%.
E se a ação atrasar, o custo será maior. E ainda aumenta o risco de que tecnologias para a captura de carbono não possam se desenvolver rápido o suficiente. Nesse caso, a economia só pode cumprir as metas de emissões produzindo menos, aumentando o custo para 6% do PIB mundial até 2050. E o que esse estudo não prevê é a pressão migratória de locais miseráveis para outros mais ricos.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano