Por Mario Eugenio Saturno,
Quando fui contratado pelo INPE em 1985, fui alocado na mesma divisão que os competentes tecnologistas que desenvolveram a urna eletrônica brasileira para acabar com a fraude do voto em papel. Tenho certeza que a urna eletrônica é inviolável hoje. Mas, desde 2004, eu defendo a volta da impressora porque (1) a eleição tem que ser verificável por um leigo e não por um especialista que saiba mais computação que eu.
A urna eletrônica sempre será inviolável? Todo sistema de segurança inspira a confiança dos tolos até ser penetrada. Quem já perdeu as chaves do carro ou da casa, fica extremamente decepcionado com a facilidade que um chaveiro abre a porta. A França construiu uma estrutura de defesa invencível contra a Alemanha, a Linha Maginot... Oras, se é impenetrável, desvie! Assim, a Alemanha invadiu a Polônia e, depois, a França. Atualmente, vemos sistemas de alarme e defesa sofisticados serem derrubados. E por que as urnas eletrônicas seriam diferentes?
Hoje, vemos os futuros tolos dizendo que é segura porque as urnas não estão na internet, o software pode ser auditado, antes de transmitir os votos há uma impressão da totalização dos votos que é mostrada aos fiscais dos partidos para fazer uma contagem paralela, etc.
E não estar na internet é razão para não ser infectado? Assim pensavam os cientistas que desenvolveram o sistema de centrífugas de enriquecimento de urânio do Irã. Os israelenses (2) criaram um vírus (na verdade, um worm) específico para atacar o sistema iraniano e que colocava as centrífugas funcionando ligeiramente acima do máximo, danificando-as. O software malicioso chegou por um pendrive.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não entende nada de Computação, está repetindo o que lhe disseram os especialistas. Mal sabe ele que há um paradoxo referente ao sofware da urna eletrônica: (3) para ser auditável, tem que abrir todo o código, o que permitiria explorar fragilidades.
Eventualmente, algum worm vai infectar as urnas e alterar votos. De qualquer forma, são (4) as pessoas que fabricam as urnas e programam o software, quem garante que nenhum deles colocou uma “backdoor”? O ministro do TSE?
Porém, o que ninguém pensa é (5) na alteração dos componentes eletrônicos da urna, como a introdução de um wifi privado ou de memória extra e invisível dentro do chip do processador, por exemplo, para decretar o fim da tal segurança invencível da urna. Basta um funcionário corrupto na cadeia de produção para substituir o componente eletrônico.
A solução é voltar às origens, como na primeira urna eletrônica que imprimia o voto, permitia ao eleitor verificar o voto através de um vidro transparente e, depois, cortar e jogar automaticamente para dentro de um coletor lacrado. Até o presidente Bolsonaro conseguiu exprimir isso com uma rara eloquência.
Não será preciso instalar impressoras e coletores lacrados em todas as urnas, mas em uma pequena porcentagem, trabalho para um estatístico determinar. Creio que de 1 a 3% já seja suficiente. E quando houver denúncia, anula aquela urna? Não, novamente, o estatístico precisará elaborar um modelo para essas decisões. Cabe aos deputados e senadores viabilizarem isso enquanto há tempo, liberdade e democracia real.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano