Por Mario Eugenio Saturno,
Escrevo triste este artigo no mesmo dia que o Brasil teve mais de 400 mil mortos por Covid-19. Um dia inimaginável até para o pior pessimista. E podemos atribuir a alguém essa responsabilidade? Sim, 300 mil ao Bolsonaro e os seguintes 100 mil ao deputado federal Artur Lira que está sentado sobre uma pilha de pedidos de impedimento.
É claro que o combate ao "lockdown" e às máscaras tem um papel importante, mas o desprezo às vacinas é fundamental. Segundo o próprio presidente Bolsonaro, juntamente com o ministro Teich, desde 8 de maio de 2020, estão tratando da compra de vacinas. Rejeitou todas, exceto a da Astrazeneca, inclusive pagando dois bilhões de reais antecipadamente.
Se dependesse do estulto presidente, começaríamos a vacinação em março, em ritmo bastante lento por causa dos problemas que a Fiocruz enfrentou. Poderíamos vacinar os brasileiros nos primeiros dias de dezembro com as vacinas da Pfizer e com a Coronavac, a vacina chinesa do Dória que o estulto afirmou que não ter qualidade por ser da China e que jamais compraria, pois quem mandava era ele... Só que não! E não esqueçamos da inumana comemoração da morte de um voluntário e que era "mais uma que Jair Bolsonaro ganha".
O governador de São Paulo teve coragem patriótica ao brigar com a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária e bancar a importação de seis milhões de doses da Coronavac que começaram a chegar em 19 de novembro com atraso de um mês pela enrolação da Anvisa. E imaginem se a vacina falhasse, os inúteis diriam que Dória desperdiçou 60 milhões de dólares.
A mesma má vontade da Anvisa se vê para a aprovação dos testes da Butanvac, a vacina desenvolvida pelo Butantan, pois demorou mais que um mês para solicitar documentos que nada tem a ver com os testes, mas com a fabricação. Mais uma vez o governador vai bancar a produção de uma vacina sob risco.
Não custa observar que no dia 26 de março, foi anunciado o pedido na Anvisa da Butanvac para iniciar os testes. Horas depois, de improviso, houve uma coletiva do governo federal para divulgar que a Versamune, vacina brasileira apoiada pelo governo federal e desenvolvida por cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) também pedira autorização á Anvisa. No dia 23 de abril, o presidente Bolsonaro dirigiu-se ao ministro astronauta: Marcão, como é que tá a nossa vacina brasileira? Essa é 100% brasileira, não é aquela mandrake' de São Paulo, não né? Pois é, um dia depois, o mesmo estulto cortou duzentos milhões da vacina, inviabilizando o projeto. Grande Jair! Que continua cometendo crimes, deputado Lira!
Se esquecer que o Almirante da Anvisa participou de ato contra a saúde e a letargia para com o Butantan, vê-se que Agência trabalha bem, especialmente na análise dos documentos da vacina Sputnik V. Entre os problemas detectados analisando somente a documentação da própria Sputnik, observaram a presença de adenovírus replicante no fármaco o que pode causar efeitos colaterais e comprometer a segurança do imunizante.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano