Por Mario Eugenio Saturno,
No Novo Testamento, existem sete cartas que não são atribuídas a Paulo. Essas cartas foram reunidas numa mesma coleção desde muito cedo, mesmo tendo suas origens bastante diversas. Elas são chamadas de cartas católicas.
Dentre essas cartas, duas cartas são atribuídas a Pedro. E as duas são explicitamente assinadas por Pedro. Os santos Padres e a Tradição da Igreja, até o século XIX, atribuíam a primeira carta como sendo de Pedro.
Porém, alguns especialistas negaram a autoria porque a linguagem grega é elegante para alguém como Pedro e ainda apresenta elementos teológicos das cartas paulinas. Vê-se ainda que apresenta um ambiente tardio, com situações fora do contexto de Pedro. Mas o próprio Pedro informa que não escreveu a carta sozinho, citando Silvano (5,12-13). Silvano é Silas, colaborador de Paulo (Atos 15,22-24; 2 Cor 1,19). Outra hipótese é que a carta tenha sido escrita por um cristão anônimo pertencente à escola petrina. Essas hipóteses colocam a sua escrita entre 70 e 100 d.C., depois da morte de Pedro e destruição de Jerusalém e não escrita em Roma entre os anos 64-67 d.C., antes da morte de Pedro.
Há que se considerar ainda que não há referência que Pedro tivesse evangelizado na Ásia Menor. Essa região era área de missão de Paulo (At 18 e 19). A comunidade enfrentava problemas que não são do tempo de Pedro. O conteúdo da carta é apresentado numa linguagem usada depois do tempo de Pedro. Isso pode ser verificado pelas semelhanças entres as cartas escritas nos anos 90 d.C. (Ef 2,20-22; Tg 1,1; 1Pd 1,1; Hb 11,13). E ainda é inegável a semelhança da Primeira Carta de Pedro com a carta aos Efésios.
As comunidades do oeste e do norte da Ásia Menor eram formadas de convertidos do paganismo, de gente mais abastada e de escravos. No geral, eram comunidades rurais que viviam em pequenos povoados, campesinos e pastores que cultivavam as propriedades da classe dominante, o que explica a insistência em temas como fraternidade, amor e solidariedade entre os cristãos. Tais valores eram indispensáveis perante uma sociedade injusta e opressora.
Assim, a carta busca admoestar e confirmar na fé esses cristãos (5,12) frente a hostilidade do mundo pagão, e a calúnias e opróbrios que sofriam (1,6; 4,12-15; 3,14-16), fortalecê-los em vista dos sofrimentos que deviam suportar (compromisso do batismo) e ainda insiste no caráter vitorioso da esperança cristã (1,3-4.13).
Com os olhos voltados para o Cristo sofredor (2,18-25) e triunfante (3,18- 22), o cristão deverá viver uma vida nova (1,13-15) de caridade, paciência e humildade, na certeza da salvação definitiva e por ocasião da vinda gloriosa de Jesus Cristo (1,7).
A carta não tem uma estrutura litúrgica ou catequética, é uma carta circular que aborda diversos temas. O núcleo doutrinal da carta se apoia sobre dois textos Cristológicos (2,21-25; 3,18-22), uma espécie de credo primitivo, do qual se entende perfeitamente por que o cristão deve esperar confiante a salvação (1,3-12; 3,5.15; 5,10-11). Ou seja, o cristão não deve acovardar-se diante do sofrimento e as dificuldades (3,13-17; 4,12-19).
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano