Por Mario Eugenio Saturno,
Em artigos anteriores, tratamos da Primeira Carta. Já a Segunda Carta ou Epístola é uma carta testamento e que Pedro lembra sua presença na Transfiguração de Jesus (2Pd 1,16-18, Mt 17,1-7, Mc 9,2-9 e Lc 9,28-3).
A leitura da carta transmite a ideia que o autor já está velho e no fim da vida. Daí as recomendações com o objetivo de manter a fé do grupo e alertá-los dos perigos que rondam as comunidades. Esta carta também tem a intenção de afirmar a inspiração divina da Bíblia (1,20-21: sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal), dar uma resposta precisa ao problema da Parusia (palavra grega que resume a volta gloriosa de Jesus Cristo, no final dos tempos, para estar presente ao Juízo Final) e ainda cita e trata das cartas paulinas (3,15-16).
Esta carta nos mostra que são comunidades que estão esperando o retorno do Senhor,
mas estão desanimadas e que algumas foram infiltradas por falsos mestres e que seus ensinamentos ameaçam essas comunidades. São comunidades familiarizadas com a Sagrada Escritura e com as tradições apocalípticas judaicas, mas abertas à cultura helenista.
O objetivo central da Carta é criticar severamente os hereges pelos erros doutrinários (2,1-11) e os desmandos de ordem moral (2,12-21) e estabelecer a doutrina da Parusia (3,8-13). A Parusia não é uma fantasia, vem dos Apóstolos (1,16-18) e foi anunciada pelos profetas (1,19-21). Por fim, o Senhor é paciente e espera a conversão (3,8-9).
Esta Carta, assim como a de Judas, enfatiza a luta contra os falsos mestres (2Pd 2; Jd 3-4), os conflitos internos em torno da disciplina e da verdadeira doutrina. Ou seja, contra as heresias, palavra grega que significa escolha ou opção, mas que com o tempo passou a designar o desvio de um caminho ortodoxo, outra palavra grega que significa caminho certo ou em conformidade com o dogma católico. A heresia tem a ver com heterodoxia, isto é, com o caminho diferente.
Os cristãos acusavam-se mutuamente de traírem a verdadeira fé e a consequência foi a luta pela reta doutrina. A primeira doutrina que a Igreja condenou foi o Gnosticismo.
O Gnosticismo foi uma religião de redenção ou de remissão, contemporânea ao cristianismo e alcançou o auge na metade do século II. Foi um movimento multiforme, ramificado em vários grupos e sistemas doutrinais das mais diversas denominações, assumindo a forma de comunidades religiosas e também de escolas filosóficas.
A partir da interpretação alegórica das Sagradas Escrituras, os gnósticos dissolviam quase completamente a doutrina cristã e misturavam com conceitos e ideias de várias correntes filosóficas, como: platônica- pitagórica, Zoroastro, religiões orientais e a corrente dualista do mundo filosófico. A ideia era conciliar o cristianismo com a filosofia da época. Se antes, com os judeus cristãos, o problema era em relação à Lei, com as heresias o ponto central passa a ser a doutrina e a fé em Jesus Cristo.
Restando a advertência final (3,17-18): caríssimos, não caiais, mas crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano