Por Cláudia Vieira, via redes sociais...,
Lá se vão 10 anos (12 de dezembro) sem a presença do meu pai. Quantas saudades! Não há um dia sequer que eu não lembre dele. Desde pequenina me levava na garupa da bicicleta pra pescar na Urca e ver a mãe no bairro Peixoto.
Na época trabalhava meio expediente no Instituto Nacional de Educação de Surdos e ainda sobrava tempo pra me levar e buscar no colégio na Rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico. Penso, não tenho a certeza, que toda a sexta-feira quando ele ia me buscar no colégio ele comprava uma galinha viva num abatedouro que havia na Rua Jardim Botânico. De lá subia a Rua Lopes Quintas com a galinha embrulhada num jornal sob o braço. Como o meu pai era surdo ele não ouvia a galinha cacarejando. Pronto! O inspetor anunciava: - Claudia, o seu pai chegou! Morria de vergonha e propus que ele comprasse a galinha na volta. Nada feito. Na sexta quando a galinha cacarejava eu já sabia. Meu Pai veio me buscar!
Meu Deus! Um grande homem!
O tempo passou e me formei em fonoaudiogia porque queria me aprofundar no assunto.
Fiz estágio no INES e visitava o meu pai, já professor profissionalizante, na sua grande sala de encadernação de livros. Eu feliz e ele muito mais.
Depois de formada e exercendo a profissão me deparei com algo muito difícil de encarar. Atendi diversas crianças surdas e seus pais não queriam, de forma alguma, que falassem em linguagem dos sinais. O choque e o conflito foram tão grandes que desisti de continuar a profissão. Eu não conseguia imaginar meu pai falando, inclusive minha mãe que também é surda.
Decisão tomada e tive a compreensão dos dois e não me arrependo.
Sinto muito a falta dele. Era ligado em 440w e não tinha tempo ruim. Era muito querido, bonitão e alegre. Sinto em não ter conhecido mais a sua vida mas não posso chegar a tanto. Saudades!!!