Por Paulo Hayashi Jr.,
A amizade sincera e solidária não aparece como obra do acaso, mas como fruto bem cultivado do trabalhador disciplinado. Sem esquecer dos adubos do amor ou da retirada dos inços do esquecimento e do descaso, a colheita, tal como no trigo, depende de esforços constantes. Não adianta somente semear a boa semente, é necessário vigilância para que apareçam as mais altas frutificações.
Tempo, colaboração e harmonia integram os indivíduos em afinidades conjuntas, as quais se tornam belas quando voltadas para propósitos superiores. É a junção de esforços e capacidades para a realização do trabalho que progride o mundo, bem como recompensa os indivíduos, seja em termos materiais, seja de forma imaterial, alegrando a alma, o coração.
Para que as amizades sejam recursos nobres no ambiente de trabalho é essencial o exercício da compreensão, de se colocar na posição do outro, a empatia que auxilia no deslocamento do ego para uma perspectiva maior. Quem consegue ser altruísta, tolerante e bondoso, mas sem esquecer as réguas da justiça, com o tempo cria admiração e inspiração. É a liderança que conduz sem resistência, tal como Jesus.
Cristo é o exemplo mais perfeito de ser humano e sua conduta frente às amizades e a compreensão, seja da negação de Pedro, seja da traição de Judas, exemplifica o excelso trabalho dele. Ser filho de Deus é o convite para se preparar para as possibilidades maiores do criador. Aprendamos, portanto, a nos aperfeiçoar para a infinita riqueza do universo.
A riqueza maior
Para o filósofo estoico Sêneca, "o caminho mais rápido para a riqueza é desprezá-la". Apesar da estranheza inicial, há muitas verdades no conselho. De não ficar preso à riqueza material para que a avareza não floresça entre as sombras pessoais. Ou então, deixar de aproveitar a vida em seus pequenos momentos que requerem a consciência ativa e plena. Estão nos tempos pessoais os momentos inesquecíveis que o dinheiro não compra e que ficam eternizados em nossa memória. Além disso, o indivíduo não pode ter tudo, mas é preciso agradecer por aquilo que tem e viver em um padrão abaixo dos ganhos. Ainda para Sêneca: "é verdadeiramente feliz e dono de si o que espera o amanhã sem preocupações".
A riqueza para ele era então a paz e a tranquilidade de consciência e espírito que permitia viver focado naquilo que importa. Os tesouros maiores não eram aqueles guardados em baús de madeira, tampouco depositados em bancos. Para todo amante do conhecimento, estava na busca do saber e do amar corretamente as maiores contribuições para os tesouros íntimos. Com conhecimento e relacionamentos favoráveis é possível existir sem o medo de perecer sem sentido, tampouco de naufragar nos mares das ilusões materiais. Serve-se então da moral como bússola e timão para as decisões complicadas e a caridade como os remos que nos fortalecem em nossas lutas do dia a dia. Mais do que o prazer fácil ou a vida material que paralisa os esforços, o dever do progresso e da expansão das luzes internas para que possamos retribuir ao universo todo o bem recebido.
Paulo Hayashi Jr. - Doutor em Administração. Professor e pesquisador da Unicamp.