Por Paulo Hayashi Jr.,
Conta uma lenda hindu que alguns cegos haviam tido contato com o elefante e que cada um deles havia tocado em uma única parte do mesmo. Mas, todos em pontos diferentes. Assim, por mais que se esforçassem, não conseguiam chegar a uma conclusão satisfatória sobre o animal. A particularidade e a certeza da observação empírica imediata havia cristalizado uma perspectiva parcial de complicada superação. Não era difícil esperar o escárnio, a imperfeição, a distorção do outro, mas não de si. A solução otimizada era contrária ao apego ao ego e ao orgulho desmedido que ainda muitos cultivavam.
Ter uma verdade parcial não implica em descartar a maior, tampouco em desprezar o próprio esforço de crescimento e evolução. Mudar de perspectiva não vem sem sacrifícios ou novas experiências que possam complementar a anterior. Além disso, não é tarefa com data de validade ou prescrição. Mas exige a reflexão pessoal, a busca do autoconhecimento e principalmente, de valores e propósitos que o levem para o alto, para uma condição superior.
Mais do que a rota da certeza sem dúvidas, pavimentada pela rigidez e apego ao ego, a flexibilidade proveniente da humildade que faz da existência mentes abertas e disponíveis à verdade maior. Como seres que se renovam na busca do Cristo, o mensageiro das estrelas, a esperança do amor e da bondade que faz com que tenhamos a gentileza de ressignificar a vida através de ideais superiores. Se um dia fomos cegos à Deus, que possamos agora trilhar o caminho do progresso infinito através do trabalho santificante.
Recomeço
A difícil tarefa de recomeçar a vida quase se aproxima do conceito de arte. O malabarismo, a criatividade e os pontos de vista inusitados para que se possa ter as ganas e garras necessárias para o êxito esperado. Todavia, toda nova ação é oportunidade para aquilatar as competências e os conhecimentos, mesmo que a contragosto da pessoa. Mas, nem sempre as lições valiosas vêm com o pedido do aluno. Jesus pode servir de caminho distinto para a aprendizagem bendita, mesmo que em um primeiro momento pareça estranho. São as razões e porquês que não precisamos confrontar, apenas aceitar para acelerar a velocidade da aprendizagem, tal como alunado exemplar que se inspira na trajetória do mestre Nazareno.
O suor e sacrifício de Jesus a partir do Getsêmani não foi o fim, mas o cumprimento de uma longa e esperada jornada. A mais pura melodia para a renovação da humanidade em Deus e na busca de uma vida plena dos valores edificantes e morais.
A vivência só tem sentido a partir do alinhamento da vida com os propósitos e as ações que beneficiem a todos. É a caridade desinteressada e o altruísmo como fontes de luz para que a existência seja afirmativa e que os tombos fiquem apenas no passado. Errar pelo ego deve ser deixado para trás e a conscientização e obra para uma vida digna torna-se caminho comum para todos aqueles que buscam a renovação íntima. Mais do que a ânsia pela chegada, a tranquilidade da consciência pessoal de estar na trilha certa através do recomeço e do avanço.
Paulo Hayashi Jr - Doutor em Administração - Professor e pesquisador da Unicamp.