Por Dartagnan da Silva Zanela (*)
Nessa semana fomos à Santa Missa na Igreja de Santo Expedito. Uma singela e acolhedora capela que, não faz muito, foi restaurada.
Gosto muito da sua simplicidade que, ao seu modo, nos aproxima do altar sem que percamos a reverência que lhe é devida.
Enquanto o sacerdote celebrava, eu dedilhava as contas do Santo Rosário, como costumo fazer, voltando meus olhos para a Santa Cruz, vez por outra para o sacrário, próximo da imagem de Nossa Senhora de Belém e, é claro, noutros momentos volvia minha vista para a estatueta de Santo Expedito.
Lá estava ele, imponente com sua armadura romana, com seu braço direito virilmente voltado para cima, com o indicador apontando para o alto, dando-nos a clara impressão de que seu brado retumbante ainda ecoa no interior do modesto templo, e nos átrios do nosso coração: “hodie”!
Não sabemos ao certo quando o referido santo nasceu. Tal informação perdeu-se nas brumas do tempo. Mas sabemos quando ele foi martirizado. Foi em 19 de abril de 303, em Melitene, na Armênia, onde foi decapitado por ordem do Imperador Diocleciano.
Também sabemos que o santo das causas impossíveis não era pouca coisa na ordem do dia. Ele não era apenas um cidadão, nem tão somente um soldado romano. Antes de deixar esse mundo de pó e sombras ele foi Senador, Príncipe-Cônsul do Império Romano na Armênia e, ainda por cima, comandou a XII Legião.
Como dizemos por essas bandas, ele não era pouca bosta, mas, mesmo assim, preferiu fazer como São Paulo (Filipenses III:5-7), e disse para si mesmo que todas essas glórias mundanas eram apenas e tão somente um monte de bosta diante de Cristo.
Hoje, muitas são as figuras, figurinhas e figurões que se veem investidos de poder e que não pestanejam nem um cadinho para abusar do dito-cujo, como se estivessem acima do bem e do mal. Pessoas estas que preferem mil vezes as mundanas glórias deste mundo e que, por isso mesmo, fazem troça de Nosso Senhor nos salões lúgubres dos seus pérfidos corações.
Na verdade, muitos desta estirpe fazem pior. Muitos desses personagens vis distorcem a mensagem de Cristo para servir às conveniências do seu projeto totalitário de poder que, como todo projeto que tenha esse perfil pestilento, querem porque querem amordaçar todos aqueles que podem oferecer alguma resistência, alguma oposição a sua sanha, agindo de modo similar ao imperador Diocleciano, que condenou Santo Expedito à morte.
Enfim, tais pensamentos me ocorreram enquanto participava da Santa Missa na acolhedora capela edificada no ermo, na comunidade da Vila Rural, em honra a Santo Expedito, o homem que disse sim a Deus e não ao mundo pútrido do poder.
Quanto a nós, hoje, fica a pergunta: a quem diremos sim? A quem? Essa é a pergunta que não pode ser calada.
(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas. Autor de “A Bacia de Pilatos”, entre outros livros.