Por: Cristiano Bremm e Silvio Genro, via redes sociais,
Esse poema foi escrito após a leitura de uma crônica do mestre Ruben Alves , intitulada "Onde nasce Deus?", daí surgiu essa parceria, que muito me honra, com o mestre/irmão Silvio Aymone Genro !
Enquanto a chaleira chia
E a cuia espera vazia
Junto ao fogo de chão,
Fumaceando meu olhar,
Eu me ponho a prosear
Com a alma e o coração.
Deus nasce em algum lugar?
A lua vem me indagar,
-Onde afinal, nasce Deus?
A resposta vem num segundo,
Nasce no centro do mundo,
Num lugar chamado EU...
Mas, o que é o EU?
Nesse mundo que é meu,
Eis a segunda questão...
Com seis anos de idade,
Eu provei a liberdade
Sendo um piá de pé no chão!
Será que sou outro EU?
Só porque o guri cresceu,
E muita coisa estudou
Nos livros de faculdade?
Viu mentira, viu verdades...
-Mas continuei EU, e aqui estou!
Outra dúvida me vem
E uma reposta também
Meu pensamento navega,
Enquanto a vida me afronta
E entrega a resposta pronta:
-O EU é apenas um bolso
Que este meu corpo carrega!
Mas que coisa mais estranha,
A indagação me acompanha
Feito a barranca e seu rio...
Isso que meu corpo leva
E deixa minha alma leve,
É um espaço que é vazio!
No meu bolso de guri,
Eu brincava por aí
Com bolitas e pinhões,
Bodoque e caramelos...
-Cresci, mudei o modelo,
Visões e convicções.
Os objetos que carrego
E aos quais ainda me apego
Vou substituindo a esmo...
Mudaram os objetos,
Sonhos, vida e meus afetos,
-Mas o bolso, ainda é o mesmo!
Vamos perdendo os amigos
E amores, novos e antigos,
Que colhemos nos caminhos...
E as mãos nos bolsos vazios,
Carregam os desafios
Dos que se sentem sozinhos.
Então me ponho a pensar...
-Quando esse bolso rasgar
Por certo a dor vai ser forte!
E com paz no coração
Chego enfim, a conclusão:
-O bolso rasgado, é a morte!
Meu guri me acordou
E sutilmente perguntou
Tendo no olhar a verdade:
-Papai, se você morrer,
E não mais puder me ver,
Você vai sentir saudades?
Mas num bolso remendado,
Cabem os sonhos guardados
Que em vida juntei em vão,
E um punhado de esperança,
Que colhi nessas andanças,
E hoje amansa o coração.
Ah, o amor! Ah, o amor!!!
Só ele sabe o sabor
E o valor dos sentimentos...
Por isso, invento poesias,
Quando a vida esvazia
Os meus bolsos, alma adentro.