Por Paulo Hayashi Jr - Doutor em Administração. Professor e pesquisador da Unicamp.
Conta-nos a história do Jardim do Éden que a permanência no paraíso tenha sido negada por causa do fruto da árvore do conhecimento. Todavia, a volta seria aguardada desde que fossem cumpridos alguns requisitos. Ou seja, é preciso preparo e adequação às novas condições do mundo para frequentar o paraíso novamente. Não é uma expulsão definitiva, mas um até logo temporário onde cabe ao indivíduo se esforçar, buscar mais conhecimento e experiência para que se possa estar neste nível superior. É imprescindível nesta jornada a perfectibilidade de deixar para trás as más tendências e os erros do passado para se transformar em uma pessoa nova. Cabe a cada um se esforçar, buscar os saberes edificantes que levem à Deus e as suas boas obras. Então, a nossa jornada na Terra seria como uma escola de aprimoramentos de nossas competências, em especial aos dois únicos mandamentos deixados pelo mestre Nazareno: amar a Deus acima de todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo. Duas regras simples, direta e clara. Todavia, como nos lembra o apóstolo dos Gentios, Paulo de Tarso: "Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo" (Rom., 7:19).
Mais do que explorar e conquistar o mundo exterior, é fundamental que o ser humano não esqueça de se descobrir e se conhecer. O autoconhecimento permite destravar o cadeado do autocontrole e da superação. Antes do paraíso externo, a conquista do reino interior para pavimentar as bem-aventuranças na terra.
Transitoriedade da vida
A existência passa de maneira rápida e vigorosa, mas muitas vezes de forma despercebida devido às rotinas, as situações turbulentas e também, pela própria falta de atenção da pessoa. Todavia, para os incautos pode ser que a noite derradeira chegue sem que se tenha terminado projetos importantes na vida. Para evitar tal constrangimento e decepção consigo mesmo, os filósofos estoicos, em especial Sêneca, fazia-se uso da expressão latina "Memento mori". É refletir sobre a transitoriedade da vida e as ações e velocidades adotadas de forma a deixar um legado inquestionável da qualidade e o esforço do ser. O intuito não é se deprimir, mas o contrário. De buscar alento e motivação para que as grandes obras sejam realizadas e a existência não seja passada em vão.
Com tal perspectiva, a consciência na imortalidade estaria assegurada por meio dos esforços, trabalho e superação em vida. A existência como um campo de batalha onde o combatente não dormiu em campo. É essencial a prudência, mas sem paralisia das ações, assim como pode ser prejudicial o agir sem reflexão.
Para Sêneca, a virtude é para ser desenvolvida no dia a dia, sem esquecer do que é relevante diante do destino. Este não seria algo determinado por si só, mas agiria em conjunto com a própria ação e vontade humana. O que cabe ao indivíduo ser e fazer, em busca de seu protagonismo em sua vivência. Mais do que a vida desperdiçada, aquela que permite dizer, tal como Júlio César: vi, vim, venci.