Por José Fernando Machado, via redes sociais,
terras ruças, barros negros
este chão que me passa involuntário
corre sem parar até ao minifundiário
com a vagarosa e tranquila rebeldia
passos que me levam ao destinatário
de pegadas da exaustão no dia a dia
mesmo assim, grito p'ra Além do Tejo
colher os frutos vingados qu'eu invejo
solo antigo dos meus avós de sangue
o cheiro da açorda d'allho com poejo
ouvir o cante e que nunca me zangue
por isso exalto todos, venham visitar
inalar a fantasia libertina do despertar
tão tardio abençoado pelo sol da Terra
lembrar o que jamais exposto encerra
O Alentejo profundo banhado pelo mar
caminhos, veredas, serras e montes
ventanias, sobreiros, terras e fontes
campos, courelas, ranchos a crescer
ganhões, pastores, vastos horizontes
aurora, orvalho matutino a amanhecer
desertas planícies de trigais em flor
desespero maior que a própria dor
saudade tamanha, rebanhos sem fim
nostalgia, lágrimas corridas de amor
sinto o teu cheiro a coentros e alecrim
as varas, os montados com as bolotas
patas negras, garças brancas e gaivotas
vastidão de mar de naufragada maresia
passeiam vagabundos nas horas mortas
um corrupio vadio lavrado nesta poesia
in, sublime leveza da poesia
Joés Fen Ardo