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Trump e o negacionismo total: da escravidão ao Pentágono
  Data/Hora: 1.out.2025 - 5h 34 - Colunista: Cultura  
 
 
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Por Maria Luiza Falcão Silva - (PhD pela Heriot-Watt University, Escócia, Professora Aposentada da Universidade de Brasília e integra o Grupo Brasil-China de Economia das Mudanças do Clima (GBCMC) do Neasia/UnB. É autora de Modern Exchange Rate Regimes, Stabilisation Programmes and Co-ordination of Macroeconomic Policies, Ashgate, England.)

 

Fonte: 247 - Nos últimos dias, os Estados Unidos foram surpreendidos por uma sucessão de medidas e discursos que revelam a face mais perigosa do governo Trump: o apagamento da memória histórica e o avanço de um negacionismo oficializado pelo Estado. Primeiro, a Casa Branca determinou a revisão de todos os conteúdos exibidos em parques nacionais e museus, com a ordem explícita de eliminar referências à escravidão, ao racismo e a episódios que “manchem” a imagem do país. Agora, para espanto geral, o novo chefe do Pentágono, Pete Hegseth, convocou generais e almirantes para um discurso em que repetiu a cartilha do presidente, atacou oficiais dissidentes e anunciou mudanças ideológicas nas Forças Armadas.

 

O apagamento da história

Trump não quer apenas governar os Estados Unidos (EUA): ele tenta reescrever a história e moldar a memória coletiva de um povo à sua imagem e semelhança. Ao ordenar a remoção de placas, fotos e exibições que lembram a escravidão nos parques nacionais, ao obrigar o Smithsonian e outros museus a eliminar leituras incômodas do passado e ao restaurar monumentos confederados já retirados, Trump inaugura uma nova etapa do revisionismo histórico norte-americano. A escravidão, o racismo, o genocídio indígena e outras marcas da formação dos EUA são varridas para debaixo do tapete, como se o silêncio fosse capaz de apagar cicatrizes.

 

Esse movimento não é isolado. Ele se conecta a uma lógica política mais ampla: o negacionismo como ferramenta de poder. O mesmo impulso que retira uma placa que lembrava a chibata nas costas de um homem escravizado é o que desacredita vacinas, insulta cientistas e promove teorias conspiratórias. Se a história incomoda, apaga-se. Se a ciência alerta, silencia-se. O trumpismo precisa do esquecimento e da dúvida para sobreviver.

 

Do vírus ao Tylenol

Durante a pandemia, o mundo assistiu ao espetáculo da irresponsabilidade: Trump chamou o vírus de “gripezinha chinesa”, recomendou remédios sem eficácia, desestimulou o uso de máscaras e transformou a vacina em trincheira política. Milhares de vidas foram sacrificadas em nome de uma ideologia que nega evidências. Hoje, esse mesmo negacionismo chega a extremos que beiram o surreal: questiona-se até o Tylenol, analgésico banal presente em milhões de casas, sob a alegação fantasiosa de que causaria autismo. A lógica é sempre a mesma: fabricar suspeitas, alimentar medo, cultivar desconfiança em relação à ciência e às instituições.

 

Não se trata de episódios isolados, mas de uma estratégia coerente. Reescrever o passado e negar o presente: essa é a fórmula do trumpismo. A escravidão desaparece das placas, os povos indígenas somem dos museus, as vacinas se transformam em ameaça e medicamentos cotidianos passam a ser demonizados. A verdade histórica e científica torna-se um inimigo a ser combatido.

 

Do negacionismo à militarização

Se o ataque à história e à ciência já era grave, o que ocorreu no Pentágono nesta terça-feira (30) inaugura uma fase ainda mais perigosa. Diante de generais e almirantes, Pete Hegseth seguiu à risca o script do presidente e transformou uma reunião militar em espetáculo de intimidação. Com Trump ao seu lado, insultou oficiais de alta patente, chamou generais de “gordos”, exigiu que quem não compartilhasse da nova linha ideológica se demitisse e anunciou regras físicas e disciplinares destinadas a expulsar da carreira mulheres e perfis menos “tradicionais”.

 

O corpo militar, que deveria refletir a diversidade de uma sociedade democrática, passa a ser moldado como uma tropa homogênea a serviço de um projeto político.

 

Mais alarmante foi a retórica de “guerra interna”. Trump e Hegseth sugeriram que cidades governadas por democratas poderiam se tornar terrenos de treinamento para confrontos futuros, insinuando o uso do Exército contra a própria população americana. Trata-se de um passo inusitado: da negação da memória e da ciência à negação do contrato democrático, colocando as Forças Armadas como instrumento de coerção política doméstica.

 

Esse negacionismo militarizado se conecta ao mesmo revisionismo já visto nos parques e museus. Hegseth reafirmou que não retirará medalhas de honra concedidas a soldados envolvidos no massacre de Wounded Knee, episódio em que centenas de indígenas foram mortos. A violência histórica é transformada em glória, e a crítica ao passado em tabu.

 

O fio condutor

O fio condutor é evidente: apagar a memória, desacreditar a ciência e militarizar a política. O trumpismo opera pela censura da história, pelo ataque ao conhecimento e pela intimidação autoritária. Placas que lembravam a escravidão desaparecem. Vacinas são tratadas como conspiração. Medicamentos básicos viram alvo de paranoia. E agora, generais são humilhados e advertidos de que não há espaço para dissenso nas Forças Armadas.

 

Não é excentricidade

Não estamos diante de excentricidades ou exageros de linguagem. O que se desenrola nos Estados Unidos é um projeto político assustador: impor uma narrativa única pela força do esquecimento e pela disciplina das armas. É o negacionismo total, que começa na escravidão apagada das placas, passa pela ciência desmoralizada das vacinas e chega ao Pentágono, transformando a defesa nacional em palco de purga ideológica.

 

O mundo precisa compreender a gravidade. O negacionismo trumpista não é só ameaça aos Estados Unidos. É inspiração para autoritários em todo o planeta. Denunciar esse projeto é defender não apenas a memória e a ciência, mas a própria democracia.

 

Porque quando a mentira se arma, a liberdade é a primeira vítima.

 
 

 

 

 
 
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