colaboração de Milton Corrêa da Costa
Mais uma pesquisa científica sobre a maconha, substância entorpecente sobre a qual uma comissão de intelectuais recomendou, recentemente, a legalização do comércio e consumo, inclusive com autorização do plantio da erva em residências, numa séria ameaça à família brasileira, comprova os males da dita substância, numa alerta aos mais jovens. Ou seja, a maconha, dita recreacional pelos dependentes e defensores da causa, não é uma droga tão inocente quanto se imaginava.
De acordo com dados do Segundo Levantamento Nacional em Álcool e Drogas, elaborado pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo, 7% da população brasileira já experimentou maconha pelo menos uma vez na vida. São cerca de 8 milhões de brasileiros. Um terço da população adulta que fuma maconha pode ser considerada dependente. Ainda segundo a pesquisa, 60% dos usuários começaram a usar a droga antes dos 18 anos. É para os mais jovens, portanto, que vai o mais recente alerta científico sobre os males da droga, conforme matéria publicada, nesta terça-feira (28/08), num jornal de grande circulação no país.
Um estudo sobre o efeito do uso de drogas por longo prazo mostra que aqueles que começaram a utilizar maconha quando adolescentes podem chegar à meia-idade com uma deficiência de oito pontos no QI (quociente de inteligência) se comparado aos não usuários.
A pesquisadora Madeline Meier, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, utilizou como base um estudo que acompanhou mil pessoas em Dunedin, Nova Zelândia, desde o nascimento até os 38 anos de idade. Os dados permitiram comparar os testes de QI feitos com os participantes na idade dos 13 — antes do uso de maconha — com os testes de QI quando adultos; em alguns casos, depois de anos de uso da droga.
O estudo mostrou que aqueles que desenvolveram uma dependência da droga apresentaram maior declínio de QI, perdendo seis pontos na média, independentemente do quão cedo o hábito começou. Dentro desse grupo, aqueles que começaram a usar a droga antes de seu aniversário de 18 anos apresentaram um declínio subsequente de 8 pontos em média no QI.
Além disso, amigos e parentes próximos dos usuários de maconha informaram que eles tiveram problemas cada vez mais frequentes de memória e de atenção. Segundo os pesquisadores, o dano não parece ser reversível depois de os usuários deixarem o hábito. Mas eles afirmam que quando o uso da maconha começa após o 18º aniversário, os danos são menores.
— Este estudo é o primeiro a oferecer evidências de que a maconha provoca, de fato, efeitos neurotóxicos em cérebros jovens — diz Meier.
Segundo o psiquiatra, especialista em dependência química, Jorge Jaber, presidente da Associação Brasileira de Álcool e Outras Drogas, a pesquisa só confirma o que na prática é notado pelos médicos:
- Há pelo menos dez anos já vínhamos percebendo esta perda cognitiva, principalmente nos jovens, porque neles não se deu o amadurecimento completo do cérebro.
O especialista explica que a maconha provoca a contração dos vasos sanguíneos e, portanto, diminui o aporte de sangue no cérebro. Com isso, reduz-se a chegada de oxigênio e de glicose, importantes substâncias para o desenvolvimento das células cerebrais. Isto afeta principalmente o lobo frontal, região relacionada ao pensamento abstrato e à memória. Jaber alerta que o comprometimento cerebral pode ser notado em cerca de 70% dos adolescentes que fazem uso contínuo da droga. Segundo o psiquiatra, a cannabis também pode provocar a diminuição do volume dos neurônios, assim como a sua destruição.
- A linguagem é a primeira a ser afetada. O uso frequente de gírias, tida como normal da idade, em alguns casos, já pode ser um sintoma. Depois, o usuário vai perdendo a motivação intelectual e os interesses alternativos, como no esporte e na cultura- alerta Jaber.
Milton Corrêa da Costa é pesquisador em temas relacionados ao uso indevido de drogas